Entre o
alerta da Logística e a preparação de uma força militar de emergência sitiada
no Rio de Janeiro, e o envio ao Corcovado, passaram-se pouco mais de meia hora.
Eram dois veículos médios velozes, que transportavam um total de quinze homens fortemente
armados e especialistas em ações relâmpagos, sob o comando do capitão Gurgel.
– Sem
complicação ou hesitação. Chegamos, entramos, anulamos a presença hostil e
finalizamos.
– O
indivíduo tem mesmo uma bomba atômica, capitão? Difícil acreditar, não?
O
capitão voltou-se para o sargento, veterano tarimbado com anos de experiência
em ações de assalto relâmpago.
– Foi o
que disseram. Não ligo a mínima se ele tem uma bomba atômica, uma montanha de
dinamite ou traques de São João. Nossas ordens são para eliminar a ameaça,
inclusive com força letal, se necessário.
– Mas
capitão, e se esse louco resolver explodir tudo assim que entrarmos? –
questionou um dos soldados.
– Tá
com medo de morrer, moleque? – respondeu um colega, mais atrás. – Pense assim,
se isso acontecer, e esse maluco tiver mesmo uma bomba atômica, ele irá mandar
todos nós para o ar, junto com o Rio de Janeiro! Cê vai passar desta para
melhor, tendo a cidade maravilhosa por companhia!
O
capitão Gurgel chegou a sorrir pelo gracejo.
– Ossos
do ofício, rapaz. Quando você vestiu essa farda, sabia que sua vida poderia
estar em jogo a qualquer hora. Mas não se preocupe, – prosseguiu, em tom
conciliador – otimismo faz parte das qualidades desta equipe. Vamos chegar e
eliminar a ameaça. Depois, o resto será história.
Em
hipótese alguma, o capitão Gurgel imaginava quão verídica seria aquela última
frase.
****
Ignorando
a força militar que se movimentava e se dirigia às pressas para o Corcovado,
Moisés apenas aguardava, olhando constantemente em seu relógio. Naquela manhã,
os demais trabalhadores haviam sido dispensados, e ele se encontrava ali
sozinho, compartilhando aquele momento de paz, apenas com o vento e o céu
límpido e ensolarado. Como lhe haviam prometido, a grande caixa fora instalada,
e caberia a ele apertar o botão.
Moisés
era um misto de orgulho e ansiedade, a cada instante que se passava e com o
tempo correndo para o derradeiro momento. O resto não importava, nada mais
importava. Ele seria o braço de Deus e, para tanto, não se preocupava que
pudesse perder a vida nesse ato, mesmo porque não seria a morte. Na verdade,
seria o renascer para a verdadeira vida, aquela que é eterna e onde não havia
pecado ou sofrimento, onde finalmente encontraria o esplendor de ser e o
carinho tanto almejado. Conforme lhe garantira o bondoso, porém austero, senhor
Renan, entregar a vida em nome do Senhor não é pecado; é uma oportunidade única
e sem precedentes.
Moisés voltou-se
uma vez mais para o relógio. Faltavam alguns segundos para o meio dia. A hora
se aproximava. A luz e a palavra, o raio e o trovão se fariam presentes. Em
seus pensamentos, uma frase que Renan lhe dissera há poucos dias ecoava com
força e vigor.
O castigo divino não pode vir através de
um controle remoto. Deve vir através das mãos de seus seguidores. Suas mãos,
Moisés!
Sem
dizer nada, com um sorriso calmo e sereno, mas radiante, como em êxtase, ele pressionou
o botão.
****
Os dois
veículos avançavam velozmente. O que vinha à frente freou de leve, antes de
iniciar o contorno da última curva, que o levaria diretamente à frente do
monumento. Em dois ou três segundos, iria contorná-la e parar defronte à
estátua.
Contudo,
aqueles segundos derradeiros se perderam na eternidade.
****
Primeiro
veio a luz invisível, que precedeu o silêncio.
Por
frações imperceptíveis de segundos, as pessoas ficaram transparentes; tudo
ficou transparente, banhados por fortíssima radiação gama.
A
seguir veio o raio, e todos ficaram cegos. Contudo não chegaram a se aperceber
disso. Nessas mesmas frações de segundos, foram todos instantaneamente vaporizados
pelo fogo, a temperatura beirando próxima a um milhão de graus centígrados. A
água do mar entrou em ebulição e se vaporizou, assim como ferro e concreto.
E só então,
em meio a ventos avassaladores, veio o trovão.
No
entanto, já não havia nada nem ninguém vivo para escutá-lo.
****
Estados
Unidos. Noticiário noturno da CNN.
– Boa
noite. O mundo chocado e em alerta – iniciou o âncora com a manchete de
destaque. – O mundo ainda está em estado de choque pelo ocorrido no Rio de
Janeiro, Brasil, há algumas horas, apenas. A notícia do primeiro atentado
nuclear assombrou os governos de todos os países, uma temeridade real entre
muitos que se vêem envolvidos com ameaças terroristas. Mas ninguém poderia
imaginar que uma tragédia dessas proporções atingiria um país que não possui
participação direta em tais questões. As preliminares indicam mais de dois
milhões de vítimas fatais, mas esse número ainda deve aumentar nos próximos
dias, por causa da intensa radiação que assola a região devastada, e pelos
ventos, que devem espalhar essa mesma radiação para áreas adjacentes.
A
figura do repórter foi substituída por imagens da tragédia.
– No
momento, é impossível de se determinar a extensão dos danos, mas seguramente é o
maior desastre ecológico do planeta, bem como o de vítimas causada por uma arma
de destruição em massa, e tudo devido ao fanatismo e a loucura de um homem,
João Cândido Renan, um pregador intolerante com os demais, em relação às suas
crenças. Após o ocorrido, Renan foi localizado na sede da Igreja da Luz e da
Revelação, em São Paulo. Pelo que foi apurado, em sua loucura, Renan não
procurou fugir e pretendia fazer uma declaração aos meios de comunicação,
exaltando a todos à volta a uma vida regada e austera, se quisessem fugir à
punição de Deus. Contudo, quando cercado pela polícia e agentes de segurança,
João Cândido Renan fugiu pela única saída que tinha, atirando-se do décimo
andar de seu prédio. Todos os demais envolvidos com a direção da entidade foram
detidos.
As
imagens desapareceram, voltando ao âncora.
– O
ocorrido não deixa dúvidas, e a verdade se mostra ao mundo da maneira mais
dolorosa possível. O fanatismo, em todas as suas extensões, é hoje,
seguramente, o maior medo da humanidade.
Em
seguida, houve o corte para os comerciais, retornando ao âncora, instantes depois.
– E
atenção, notícia de última hora. Conforme se apurou, João Cândido Renan estava
de posse de duas ogivas nucleares. O paradeiro da segunda é desconhecido.
FIM?
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